Os gatos são uma fonte de fascínio… A independência e o espírito livre que estes felinos conseguiram guardar durante os milhares de anos de domesticação, a contrabalançar com a necessidade de contacto humano, torna a experiência de conhecer um gato única.
Todos gostaríamos de saber falar a língua deles para podermos perguntar-lhes como se sentem e porque agem da forma como o fazem. No entanto, os gatos indicam-nos quando estão satisfeitos, zangados, assustados ou infelizes. Os olhos, as orelhas, a cauda, os bigodes e a voz, todos são fortes indicadores de humor.
Comunicação Visual
Observar a postura corporal do seu gato é a maneira mais simples de conseguir interpretar o que o seu gato está a pensar num determinado momento. Os gatos olham fixamente para ameaçar. Por esta razão as pessoas que os apreciam e olham fixamente, afastam-nos sem querer. Para se tornar amigo de um gato que não conheça, pisque e desvie o olhar.
Postura de aproximação amigável – aproximação com cauda erguida e com a cabeça esticada. Quando o seu gato se aproximar para o cumprimentar, baixe-se e responda sorrindo e falando de modo amigável. Ele vai habituar-se que esta é a sua maneira de comunicar, mas certamente entenderia melhor se também tivesse uma cauda e a levantasse no ar.
Postura de aproximação ofensiva – aproximação com corpo arqueado, olhar fixo com pupilas de tamanho normal, orelhas levantadas e com a cauda a mover-se constantemente de um lado para o outro. Muito associada a defesa territorial, é tipicamente observada entre dois gatos machos em luta para acasalar. Não se aproxime nem tente acalmar um gato com este padrão de comportamento.
Postura de defensiva – orelhas baixas e direcionadas para trás, pupilas dilatadas e corpo arqueado e de lado, de modo a ficar perpendicular à pessoa ou ao animal com quem quer evitar contacto. Esta postura é muito frequente em gatos medrosos ou em situações em que se sentem ameaçados. Nunca devemos forçar a interação com um gato que mostra estes sinais defensivos, pois pode precipitar reações agressivas. Lembre-se que o gato é um felino e que, além de caçador exímio, também é uma presa que precisa chegar sã e salva ao final do dia.
Comunicação Táctil
A estimulação táctil ajuda a reforçar os vínculos afetivos. Chega a casa e o seu gato vem direto a si, esfrega a cabeça e o corpo nas suas pernas? Está feliz por estar novamente consigo, indicador de aceitação total e de amizade. Ao mesmo tempo está a libertar feromonas produzidas ao nível da face (não detetadas pelos humanos), indicativo de segurança territorial e de tranquilidade.
Retribua da mesma maneira, acariciando as zonas do corpo que ele mais gosta, só vai fortalecer ainda mais a ligação. Quando estão a ser acariciados os gatos podem enterrar as unhas, de forma mais ou menos profunda. Não repreenda este comportamento, é um comportamento natural que não deve ser combatido.
Comunicação Auditiva
As mensagens sonoras transmitem informação genérica sobre o estado de motivação do gato. Situações de vocalização excessiva aparecem tipicamente em períodos de acasalamento, mas também podem acontecer após mudança de casa ou frustração por falta de estímulo ambiental.
Ronronar – na maioria das vezes é sinal de relaxamento, mas também pode ser para chamar a atenção. Existem vários padrões, existindo diferenças acústicas de acordo com o objetivo pretendido pelo gato (ex. pedir alimento). Há gatos que ronronam em resposta à dor ou stress, por isso não associe este comportamento exclusivamente a experiências positivas.
Rosnar – vocalização com tom áspero e de longa duração, associado a interações agressivas.
Bufar – emitido de boca aberta, com exposição dos dentes.
Comunicação Olfativa
A linguagem olfativa permite a comunicação entre gatos, mas não com humanos. Como animal territorial, o gato usa sinais olfativos para informar a sua identidade, o seu estado reprodutor e para delimitação territorial. Podem fazê-lo de três modos distintos: marcação facial e corporal, marcação através de arranhar e marcação com urina.
Marcação facial e corporal – esfregar partes do corpo ricas em feromonas (ex. cabeça, zona perineal e base da cauda) em pessoas, gatos ou objetos do território. Certamente já observou o seu gato a esfregar a cabeça contra a sua carteira nova para que esta passe a ter o “
odor comunitário” da casa. Em casas com mais do que um gato, se um dos habitantes ficar com um odor muito diferente (ex. idas ao veterinário), pode ser tratado como um estranho no regresso a casa. Separá-los e trocar odores com um pano pode ajudar nestas situações.
Marcação através de arranhar – além de deixar uma comunicação visual no objeto arranhado, o gato deposita feromonas produzidas nas glândulas localizadas entre os dedos. Este comportamento é necessário para que o gato se sinta mais confiante no seu território. Geralmente é realizado na zona de descanso, local onde devemos colocar vários arranhadores e de várias texturas (ex. horizontais/verticais; sisal/cartão). Não devemos punir este comportamento. Se o seu gato arranhar em locais que não são do seu agrado, peça ajuda ao seu médico veterinário.
Marcação urinária – comportamento normal para gerir o território e a reprodução, realizada tanto por machos quer por fêmeas. Não deve ser confundida com eliminação inadequada, como falado no artigo
“Sim, é verdade que os gatos são muito asseados… mas agora o meu insiste em não usar a liteira!” do passado mês de Março.
Cada gato requer um grau diferente de contacto social e alguns são bastante mais independentes e distantes do que os tutores gostariam. Existem algumas raças com enormes necessidades de contacto humano, como os Siameses, Esfinges ou os Sagrados da Birmânia. Mas, de um modo geral, a maioria dos gatos gosta de interagir com o tutor e brincar é uma ótima maneira para criar laços afetivos.
Há gatos que têm um comportamento predatório mais ativado do que outros mas todos os gatos, independentemente da idade, adoram uma boa brincadeira. Lembre-se que a idade não é uma doença e, caso o seu gato sénior deixe de brincar, leve-o a uma consulta de rotina pois pode ser o primeiro sinal de que algo não está bem (ex. dor articular, perda de equilíbrio, etc).
Como é que sabe quando o seu gato quer brincar? Certamente que aí em casa surge a “
hora da cavalaria”, uma altura do dia (ou da noite!) em que o seu gato começa a correr pela casa com as pupilas muito dilatadas, a miar alto, a brincar espontaneamente com objetos e a esconder-se para saltar à primeira coisa que mexa. Verdade? Ele está a dizer-lhe que gostava de brincar consigo e que é uma ótima altura para dar azo a longas brincadeiras com uma “
cana de pesca” (ratinho ou bola numa haste). Nunca brinque com ele diretamente com as suas mãos pois ele aprenderá que são a presa que ele deverá atacar e, deste modo, estará a estimular comportamentos de ataque direcionados a pessoas. Se o seu gato está mais ativo à noite e coincide com as suas horas de descanso, é importante oferecer-lhe um maior enriquecimento ambiental durante o dia (ex. brinquedos ativados por sensores, comedouros interativos para caçar a comida, etc.).
Os gatos, esses seres incomparáveis, surpreendem-nos diariamente. Já imaginou o que surgirá se considerarmos as suas necessidades e comportamentos?
No mês de Maio, o mês do coração, voltaremos ao Maravilhoso Mundo Felino para falar de doenças cardíacas felinas.
Joana Valente
Médica Veterinária